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Os cinco livros que marcaram a vida do pesquisador em Educação Paulo Blikstein

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O professor da Universidade de Stanford dá suas dicas de leitura. Foto: Divulgação

O homem é fera. Chama-se Paulo Blikstein, tem 39 anos e acaba de ganhar o “Early Career Award”, espécie de “Oscar da Pesquisa” pela prestigiada universidade dos Estados Unidos, a Stanford University. Com esse prêmio, Paulo vai continuar as pesquisas sobre formas inovadoras de ensinar Ciências para o Ensino Fundamental e o Médio, explorando seu projeto, o Modelamento Bifocal – sistema que combina, em uma única plataforma, experimentos científicos de laboratório com a construção de modelos computacionais em tempo real. Parece complicado, certo? Mas o objetivo é simples: tornar o ensino de Ciências cada vez mais instigante de modo a que “as crianças façam ciência de verdade”, garante.

Paulo mora há 11 anos nos Estados Unidos, onde fez mestrado e doutorado e se tornou, além de emérito pesquisador, professor de educação em Stanford. “A escola tem de ser um universo apaixonante – o conhecimento é hoje mais complexo de ser aprendido do que 20 anos atrás, ele precisa de um ambiente motivador ou não vai funcionar junto dos alunos”, alerta. Na década de 80, Paulo freqüentou a escola Novo Horizonte, em São Paulo, famosa pelo método alternativo – não havia nota, nem prova, muito menos currículo. “Tudo era definido democraticamente entre alunos e professores…”, conta. “Eu aprendia porque gostava de aprender – estudar sempre foi um prazer, o que teve impacto enorme na minha vida.”

Depois, veio a formação em Engenharia, o curso universitário de Cinema quase concluído e a ida para os Estados Unidos. E é de lá que fez a escolha dos livros que marcaram sua já tão precocemente afamada narrativa.

 

1. A Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire

“ Paulo Freire é um dos três educadores mais conhecidos no mundo inteiro, motivo de orgulho para todos os brasileiros, diria mesmo que ele é o intelectual brasileiro mais conhecido no mundo. Li esse livro quando era adolescente, depois reli várias vezes por várias razões… Uma das críticas que ele faz em “A Pedagogia do Oprimido” é contra o modelo de educação que vê a criança como um recipiente vazio, onde se vai enfiando conhecimento, como se fosse algo automático… Paulo Freire mostra que a educação não pode ser burocrática, sem motivação, ao contrário, ela precisa estar conectada com a vida, com o que é relevante para as pessoas… Parece óbvio, mas não era na década de 70, ninguém dizia que o currículo escolar devia se adaptar à realidade cultural do aluno – Paulo Freire foi o primeiro a chamar a atenção sobre essa condição. Você não pode ensinar uma criança, por exemplo, do interior de Pernambuco do mesmo jeito que se ensina a uma criança que vive em São Paulo. Tudo é diferente, incluindo as palavras. Aliás, ele conseguiu ensinar a ler, lá nos confins de Pernambuco, os pescadores de uma pequena vila – criou um currículo feito com as palavras que eram importantes no cotidiano deles, fazendo-os ler e escrever em 40 horas, foi revolucionário! Uma das coisas que aprendi nesse livro foi que a experiência escolar precisa ser prazerosa e democrática. É de fato uma leitura recorrente porque temos de continuar com o pensamento dele”.

 

2. Mind Storms: Children, Computers and Powerful Ideas, de Seymour Papert.

“Em português, chama-se ‘Logo: Computadores e Educação’. Seymour foi o primeiro a falar que se deveria aplicar a tecnologia na educação, em 1980. Até então se achava que o único uso do computador era o de que ele programava a criança, a chamada instrução programada. Aí, aparece esse americano dizendo que era a criança que devia programar o computador – ideia também revolucionária, ninguém então pensava que se podia ensinar uma criança a fazer isso… Ele criou uma linguagem de programação própria para as crianças, algo que logo se espalhou pelas escolas de todo o mundo. Também foi Seymour que inventou, anos depois, o sistema de robótica educacional, ele é mesmo uma espécie de divisor de águas no assunto. Entrei em contato com essa leitura, quando tinha 15 anos, foi presente do meu tio, Morris, já falecido – ele sabia que eu gostava de computadores, guardo esse livro com carinho… Mais tarde, quando vim para os Estados Unidos, trabalhei no grupo do Papert, foi mesmo um privilégio.”

 

3. Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

“É um dos livros para adultos que despertou o meu interesse na Novo Horizonte, li quando era bem jovem… Ele me marcou muito! Continuo a achar que esse livro ajuda a entender o Brasil de hoje, graças ao humor cáustico, à ironia, do autor… Brás Cubas transmite pessimismo, mas também celebra a condição humana, o quanto somos imperfeitos e fascinantes. Os comentários de Machado de Assis sobre os homens são cruéis, os planos de vida que invariavelmente dão errado, as narrativas pessoais que mais parecem obras de ficção – Machado sempre nos ajuda a entender melhor a própria vida. Ele dá uma perspectiva diferente para se olhar o cotidiano… Na minha área, há muita competição, egos inflados – e nada como ler Machado de Assis para colocar tudo no devido lugar.”

 

4. A Source Book in Mathematics, de David Eugene Smith.

“A tradução, ao pé da letra, seria ‘O livro-fonte em Matemática’. É um livro de 1984 que conheci já adulto, coletânea dos mais importantes papers escritos em Matemática e Ciências desde o século 16, de Newton, Pascal a Einstein. Ele traz os documentos originais, aquele, por exemplo, onde Newton apresentou seus cálculos e leis – é fascinante acompanhar a construção do argumento, de como esses cientistas também precisaram provar suas ideias, o exercício da ciência é mesmo uma atividade humilde… Infelizmente, é ensinado na escola que os cientistas são gênios… Mas, antes de serem gênios, eles tiveram de passar anos tentando provar suas teorias até obterem o devido reconhecimento. Descobri esse livro por acaso, na biblioteca da universidade, em Boston. Essa leitura também prova que o erro não é ruim, todos os grandes já erraram, algo que também deveria ser ensinado na escola – a resposta errada pode ser o começo de uma grande descoberta”.

 

5. 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Arthur C. Clarke.

“Primeiro, vi o filme de Stanley Kubrick, eu deveria ter uns 9 anos, fui com meu pai ao cinema… O jeito de contar a história, a visão complexa do futuro, aquela disputa entre homens e máquinas, isso me marcou profundamente! Logo a seguir, resolvi ler a obra original, estava fascinado com tudo aquilo – foi uma leitura que, inclusive, ajudou a me interessar por tecnologia, mas também me estimulou a ter uma visão crítica em relação ao uso dela. Nunca esqueci essa perspectiva de Clarke (e também do diretor Kubrick): a tecnologia é uma criação do homem e, como tudo o que ele faz, tem um lado positivo e um lado negativo. E, quando se celebra a tecnologia sem esse distanciamento, a gente se arrisca a se colocar em situações difíceis…Tanto livro quanto filme deixam clara a ideia de que a humanidade é definida pelo uso que faz das ferramentas para construir o mundo que a rodeia. Fascinante.”


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